Chichets Gorila - Uma reflexão

A minha infância foi vivida nos anos 80. Será uma década que ficará para a história de certeza.

Os cabelos tinham tamanha quantidade de laca que nada me tira da ideia que foi essa a causa da primeira brecha que se abriu na camada do ozono.
Havia 2 canais de televisão, e o zapping era feito "a la pata". Via-se McGyver, o knight rider, a missão impossível, o dartacão e a novela da globo depois do jantar.
Na escola levávamos réguadas à mínima desculpa (as mãos ficavam a arder durante largos minutos), e bem que nos calávamos quando chegavamos a casa, porque se contássemos aos pais ainda levávamos mais por cima.
As horas fora da escola eram passadas a brincar no quintal ou na rua com os amigos. Bincava-se às casinhas ou às lojinhas, jogava-se aos berlindes, à malha, à apanhada (chamávamos-lhe "caçadinhas"), ao stop e andávamos de bicla.
As guloseimas eram os cigarros de chocolate, os flocos de neve, e os gelados de gelo dos mais baratos no verão. E claro está, o motivo de todo este post, as chiclets da gorila.

Eram (e segundo descobri recentemente ainda são) vendidas em 2 modalidades:

A chichet própriamente dita, custava 2.50 centavos, e trazia sempre qualquer coisa no papel interior para coleccionar. Eu cheguei a completar uma colecção sobre aviões. Demorei uns tempos valentes, e só consegui graças aos muitos papeis que apanhava do chão na rua porque havia gente que não guardava (cum'é possível?)

As de pacote eram 6 chiclets em forma de paralelo (e quase tão duras!). Um pacote ainda era caro, uns 20 escudos acho eu. Mas eram as minhas preferidas. Claro que um pacote tinha de me durar para uns 10 dias pelo menos, porque a minha mãe não me dava dinheiro para outro antes desse tempo.

Cada um tinha a sua técnica para fazer render o investimento. Eu pessoalmente era adepta de mascar a mesma chiclet durante todo o dia, em casos extremos ainda a mascava no dia seguinte. À hora das refeições eram coladas na beira do prato até terminamos. Quando o pacote estava já a acabar optava por trincar só metade e deixar a outra metade para o dia seguinte. Bem esticadinho o pacote de 6 chiclets durava 2 semanas, sem passar um único dia sem mascar :)

Claro que os anos 80 deram posteriormente lugar aos anos 90, às palas no cabelo, os chumaços nas blusas/camisolas/casacos (chegavam-se a acumular 3 camadas de chumaços numa só vestimenta), a tvi e a sic, as gomas (três a 10 escudos), os caprisones e as chichets bubblicious. E as Gorila desapareceram-me da memória...

Até há 4 dias atrás, quando vi um pacote de super gorila de tuti-fruti num quiosque perto do local de trabalho. Não tive capacidade de resistir, foi mais forte do que eu.

Já não custam 20 escudos, agora custam 90 cêntimos. Os paralelos também já não tem o tamanho épico de antes. São um bocado mais pequenos (ou será que eu é que estou bem maior?) e a embalagem também tem um ar um bocado mais moderno.

Mal paguei toca a abrir o pacote e comer logo uma. Posso-vos dizer que sabe exactamente ao mesmo. Igual! Os dentes é que já não são os mesmos, que aquilo para trincar ainda é preciso alguma força...

Agora que já passaram 4 dias (a propósito, o pacote durou só 2 dias) posso fazer uma análise objectiva da experiência:
Contas feitas a chiclet é boa durante 5 minutos, após os quais o doce já se foi. Mais 10 minutos no máximo e já está a saber a papel.
A consistência da chiclet continua a ser igual. Ou seja, para dar a primeira dentada é uma desgraça, mal se começa a mascar fica meia mole e cola-se aos dentes, minutos depois está dura como pedra. O período ideal para nos arriscarmos a fazer balões será entre os minutos 3 e 8 de mascação, mas com cuidado que se o balão vos rebenta na cara, nem com esfregão arame se conseguem limpar.

Concluindo: Comer um pacote de chiclets gorila aos 29 anos vale a pena?

Vale sim senhora. Posso até dizer que foi o ponto alto da minha semana. Nada como uma viagem nostálgica ao passado para ficarmos bem dispostos e nos lembrar-mos do sortudos que fomos de nascer quando nascemos. 80's RULEZ!