A memória tem destas coisas...
As meninas gostam sempre mais do papá certo? Pelo menos é aquilo que sempre ouvi dizer...
O meu caso não foi excepção. Eu gostava mais do papá, e segundo a minha mãe me conta eu era a mais que tudo aos olhos dele. Uma menina que nasceu 10 anos depois do tempo, a menina preciosa, que fazia o que queria do pai, que era transportada ao colo quilometros só porque fez olhinhos de quem está cansada, a unica com o qual o pai dividia a maçã que comia todos as noites de sobremesa, sentado no sofá (a menina no colo claro!) a ver o telejornal.
São poucas as memórias que tenho dele. Porque era muito pequena quando ele faleceu e porque durante anos ninguém na familia falava dele para evitar tristezas. Ainda hoje se fala pouco, mas eu absorvo tudo o que posso para tentar forçar a memória.
Desde muito pequena que passava horas do dia, e muitas noites, em casa dos meus tios, e depois dos 7 anos foi o meu tio que assumiu a "responsabilidade" da figura paternal.
Corrigia-me os deveres de casa, comprava-me as chiclas super gorila para eu acabar a colecção de cromos dos aviões da segunda guerra, faziamos legos, e iamos ao Porto, à Rua Sá da Bandeira comprar café para moer, e paravamos no café Bocage perto do cinema Batalha para lanchar sempre a mesma coisa- um galão e uma torrada.
Entretanto também perdi essa figura paternal, não sem antes ele me ter visto crescer e tornar a pessoa que sou hoje.
Mas este intróito todo porquê?
Precisei de comprar um desodorizante. E quando chegue a prateleira respectiva no jumbo vi isto:
E imediatamente era novamente criança estava em casa dos meus tios, na casa de banho, a ver este vidrinho pousado no lavatório, ao lado do sabonete.
Juro que tinha as mãos a tremer quando peguei no frasco para o abrir, e senti o cheiro do meu tio. Passei o dedo pelo cilindro de desodorizante e até a consistência é a mesma de à mais de 20 anos atrás.
Embora já tenha lavado as mãos e tomado banho ainda sinto o cheiro. Porque não é fisico, a minha mente é que não quer largar a memória já.
É um misto de nostalgia e tristeza. Mas uma tristeza que não é necessáriamente má. É só o bichinho da saudade a picar.
E pronto, desculpai lá a lamechice mas ás vezes tem que ser. No próximo post deverei voltar às parvoíces do costume...